A saúde musculoesquelética refere-se à plena e adequada função do sistema locomotor, no conjunto de ossos, músculos, articulações e tecidos conjuntivos adjacentes. Uma boa saúde musculoesquelética é igualmente sinónimo de boa mobilidade, destreza e capacidade de participar sem limitações em atividades do dia-a-dia. As doenças musculoesqueléticas podem, por isso, afetar um ou mais componentes do sistema locomotor e ocorrer em qualquer fase da vida, podendo ter início súbito e ser autolimitadas (p.ex. fraturas e entorses) ou tomar formas mais insidiosas e com evolução mais prolongada, tais como doenças inflamatórias e do tecido conjuntivo ou dor regional crónica.
Ainda que raramente sejam fatais, as doenças musculoesqueléticas apresentam uma elevada morbilidade, afetando cerca de 1,71 mil milhões de indivíduos em todo o mundo. Estas condições são a principal causa de incapacidade em todo o mundo, com destaque para a dor lombar, que é o principal responsável pelos anos vividos com incapacidade (YLD), tanto em países de alto como baixo rendimento. De acordo com dados do Institute for Health Metrics and Evaluation para Portugal, a dor lombar representava em 2021 mais de 10% dos YLD registados no país em ambos os sexos e em todas as idades.
O impacto social das doenças musculoesqueléticas é inestimável, tanto pela elevada prevalência como pelas limitações funcionais por si causadas. Estas doenças resultam inúmeras vezes em perda de produtividade, estando relacionadas não só com um aumento considerável dos custos diretos em cuidados de saúde, mas também com quebras de rendimento por absentismo laboral e, não raras vezes, levam inclusive à aposentação antecipada por incapacidade.
Os fatores de risco para doenças musculoesqueléticas são também partilhados com outras doenças não transmissíveis e que frequentemente também coexistem, nomeadamente doenças cardiovasculares e problemas de saúde mental. Os principais fatores identificados são o tabagismo, a obesidade, malnutrição, estilo de vida sedentário e outros fatores psicossociais, podendo estes contribuir tanto para o desenvolvimento destas doenças como para exacerbação das mesmas.
Os problemas de saúde musculoesquelética devem estar na ordem do dia da Saúde Pública dada a elevada magnitude e transcendência que acarretam. A intervenção a nível populacional deve centrar-se na prevenção primária, assentando no controlo dos fatores de risco modificáveis, através do reforço dos Programas da Direção-Geral da Saúde, tais como o Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física, do Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável, e do Programa Nacional de Controlo do Tabagismo.
Francisco Fernandes
MD
PhD candidate in Public Health, Public Health Resident