É a pergunta que muitas vezes me colocam, e na qual tenho encontrado respostas e caminho para trilhar. A Emergência Médica é uma área essencial no atendimento de saúde à população. Os cuidados emergentes têm em si uma complexidade e realidade muito próprias e cuja intervenção de um Médico de Saúde Pública é fundamental.
A criação e desenvolvimento de um Sistema de Processos Assistenciais das Vias Verdes (Coronária, AVC, Trauma e Sépsis) é um dos exemplos em que a gestão de processos tem vindo a ser implementada e que tem incluído mais profissionais num sistema integrado e dinâmico de monitorização e melhoria contínua de todas as fases operacionais da resposta de emergência às Vias Verdes, bem como a sua interação e articulação com entidades externas como unidades hospitalares, Programas Nacionais ou Sociedades Científicas, para melhorar a referenciação destes doentes, ou ainda através de projetos de literacia para a saúde junto da população, como forma de capacitar e possibilitar o reconhecimento precoce de sintomas e a educação sobre a correta forma de utilização da chamada de emergência. Não só na área dos Processos Assistenciais, mas de forma transversal nas várias áreas da emergência, tem havido investimento no desenvolvimento de projetos científicos e redação de artigos, bem como participação em congressos e organização de reuniões de emergência médica, com o objetivo de promover a saúde de emergência baseada na evidência.
A Coordenação de programas e projetos, trabalhando em equipa multidisciplinar e garantindo que exista uma visão ampla das situações, procura que as ações e atividades sejam executadas de forma integrada e eficiente, minimizando o tempo de resposta e maximizando o impacto positivo na saúde da população/vítimas de cuidados emergentes. Este é um desafio que é transversal a todo o Departamento de Coordenação do Sistema Integrado de Emergência Médica (DCSIEM), e no qual diariamente procuro desenvolver as minhas competências profissionais.
Para fazer face à garantia dos padrões de qualidade no atendimento clínico, também em contextos de exceção tais como Acidentes Graves ou Catástrofes, foi lançado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um mecanismo de classificação de Módulos de Emergência Médica dos diversos países, estratificando-os por tipo de Emergency Medical Teams (EMT), garantindo assim o cumprimento dos padrões e princípios mínimos para projeção nacional e internacional na resposta a Catástrofes. O INEM concluiu em 2019 o processo de certificação do seu módulo de emergência médica e profissionais – PT EMT Tipo 1 Móvel e Tipo 1 Fixo. Além de ter a oportunidade de fazer parte integrante da equipa do PT-EMT, tendo sido já projetada em missão, como Médica de Saúde Pública tenho ainda participado em projetos europeus com outros mecanismos de emergência ou com outros EMT procurando partilha, trabalho conjunto e ampliação do conhecimento na área de emergências em saúde pública (como o exemplo da pandemia a COVID19) ou de outras emergências médicas ou ainda do âmbito do Mecanismo Europeu de Proteção Civil. Uma das experiências mais enriquecedoras foi a de pertencer ao Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, como elemento da organização da área da saúde e em contínua articulação com o INEM, o que possibilitou um dispositivo conjunto de resposta em saúde sem precedente no país, para mais de 1,5 milhões de peregrinos.
Na área do controlo de infeção, como atual coordenadora da Comissão de Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (CPCIRA) do INEM, temos o desafio de identificar necessidades nesta área em contexto extra-hospitalar, e procurar estratégias e atividades que respondam ao que está preconizado, correspondendo às boas práticas nacionais e internacionais, passando pela formação aos profissionais, visitas de acompanhamento e verificação da implementação das normas e orientações, emissão de pareceres e contributo contínuo para o progresso do conhecimento científico no controlo de infeção, sendo estes alguns dos propósitos que esta comissão tem vindo a desenvolver.
Não obstante todos estes exemplos de funções e projetos em que tenho estado envolvida, a componente operacional também está presente. Procuro desenvolver as competências e o conhecimento acerca da emergência médica através do serviço em Viatura Médica de Emergência e Reanimação, Centro de Orientação de Doentes Urgentes, Centro de Informação Anti-Venenos, entre outras atividades formativas e de colaboração com outros departamentos e sectores. Os investimentos contínuos em capacitação e colaboração interdisciplinar são essenciais para fortalecer a capacidade de resposta a emergências médicas e garantir uma sociedade mais resiliente e preparada. Acredito que ao ampliar o conhecimento e experiência sobre esta área possibilita um maior e melhor contributo em projetos e estratégias de resposta que mais se adequem às necessidades de saúde da população e ao serviço de emergência médica nacional.
Margarida Machado Gil
Médica Especialista em Saúde Pública
INEM