Nos últimos tempos, temos observado várias discussões e propostas de reestruturação nas Unidades Locais de Saúde (ULS). Pelo que surge a questão: já apresentaram as vossas propostas aos conselhos de administração das novas ULS? E mais importante, onde ficou a saúde pública no organograma dessas novas estruturas? O que contempla o quadro das atividades e competências dos médicos de saúde pública?
Em 2021, tive a oportunidade de estagiar num dos melhores hospitais de Itália, onde fiquei fascinada com o papel central que os médicos de saúde pública desempenhavam. A experiência foi tão enriquecedora que utilizei o meu relatório de estágio como proposta de reorganização para Portugal, onde apresentei as vantagens, dificuldades de implementação e críticas ao programa de internato. Infelizmente, esta informação ficou perdida nos arquivos do internato médico, mas acredito que é crucial partilhá-la.
O meu colega Nuno do Amparo teve uma experiência semelhante em Espanha, e juntos decidimos compilar as nossas observações. Pretendemos mostrar como os médicos de saúde pública podem fazer a diferença nos hospitais, utilizando exemplos de dois países com sistemas de saúde semelhantes ao português. A nossa perspetiva resume-se no seguinte quadro:
Proposta de áreas de atuação do MSP em contexto hospitalar em Portugal |
Investigação |
Melhoria contínua da qualidade |
Prevenção e controlo de infeção |
Epidemiologia clínica |
Gestão de doentes e da informação clínica |
Avaliação de tecnologias de saúde |
Literacia em saúde |
Proposta de áreas de colaboração do MSP em contexto hospitalar em Portugal |
Saúde ocupacional |
Planeamento em situações de catástrofe |
Formação para os profissionais de saúde |
Esperamos romper com o status quo e criar discussão com os seguintes argumentos:
Exemplos Inspiradores, Não Transferências Literais: Os exemplos que apresentamos não são para serem transferidos ipsis verbis para Portugal. Eles servem para mostrar que é possível implementar este modelo em contextos semelhantes.
Adaptação do Programa de Internato: Reconhecemos que o programa de internato médico de saúde pública precisará de ser adaptado para se adequar às necessidades específicas do contexto hospitalar.
Integração numa realidade pré-existente: A adaptação de um novo modelo deverá ter em conta a realidade existente bem como outras especialidades e classes profissionais que já ocupam os espaços em causa.
A nossa proposta visa não só melhorar a eficácia e eficiência dos hospitais, mas também valorizar a especialidade de saúde pública, dando-lhe o lugar de destaque que merece. A integração dos médicos de saúde pública nos hospitais pode trazer inúmeros benefícios. Assim, convidamos os decisores e gestores das novas ULS a considerarem as nossas propostas. É essencial que a saúde pública seja integrada no organograma das ULS de forma estruturada e estratégica.
Esta proposta não é um fim em si mesma, mas um ponto de partida para uma discussão mais ampla e profunda sobre o papel dos médicos de saúde pública nos hospitais portugueses. Poderão ler o artigo na íntegra na Ata Médica Portuguesa.
Regina Sá
Unidade de Saúde Pública. Unidade Local de Saúde do Algarve.